“A vida é como uma festa. Por melhor que ela esteja, chega uma hora que bate um cansaço e tudo que se quer é voltar para casa e descansar.”
Um dia, alguns anos atrás, numa conversa informal, meu pai se saiu com essa frase. Naquela altura, o que me marcou foi saber que ele comparava a vida a uma festa, e fiquei feliz. Se ele tinha saúde, uma linda família, tempo e disponibilidade para viajar, a companhia da minha mãe, o mar para velejar e o golfe que ele tanto gostava de jogar, sim, a vida era uma festa, e ele não parecia estar cansado, muito pelo contrário. Poucas pessoas sabiam aproveitar cada momento com a alegria de viver e a vontade de estar junto de quem estivesse perto dele. E eu me sentia abençoada por estar na mesma festa.
O tempo passou e o cansaço bateu. Muitos amigos queridos já haviam ido embora. Ficavam os mais jovens, animados, na pista de dança. A música, alta, passava a incomodar, e as pernas, cansadas, o impediam de dançar. Filhos e netos, e depois os bisnetos, vinham à sua mesa para dar um alô e fazer um carinho, sentavam-se por um tempo em sua companhia, e voltavam para as suas respectivas festas barulhentas e animadas.
Meu pai recolheu-se com minha mãe para um canto menos agitado do salão da vida, e fechou os olhos para descansar um pouquinho. Não queria ir embora e deixar tanta gente amada para trás. Mas o pensamento andava embaralhado e o corpo já não obedecia. Precisava de ajuda para levantar-se, banhar-se, para se deslocar e às vezes até para comer já que não tinha fome e nem mesmo o sorvete de que tanto gostava o apetecia.
A festa já não tinha mais graça e tudo incomodava, com exceção da constante presença da minha mãe, companheira de setenta e cinco anos de casados, e da prole numerosa que volta e meia vinha estar com eles. E por isso – apenas por esse motivo – ele relutou a ir embora, mas o cansaço foi mais forte.
Ninguém vive para sempre, nem mesmo meu pai que, por muito tempo, sobretudo quando criança, eu achei que fosse imortal. Papai se foi, descansou, depois de viver uma vida longa e linda. Deixou a festa, voltou para casa. Ficaram as boas lembranças de bons momentos vividos juntos, e o exemplo de ética, honestidade e caráter a serem seguidos. Seria muito egoísmo da minha parte querer que ele ficasse mais tempo conosco. A festa tinha sido boa, mas já havia passado da hora dele voltar para casa e descansar.