Eu tinha dezoito anos e ainda me perguntava: o que quero ser quando crescer?
O problema é que eu já tinha crescido e estava às portas do vestibular.
Naquela época era importante escolher bem. Era raro parar uma faculdade no meio porque não se estava gostando, começar outra, e às vezes, mais outra, até acertar. Hoje é o que eu recomendo que se faça, mas não foi o que eu fiz.
Escolhi estudar economia. Logo eu, ruinzinha em matemática. Cheguei a achar que gostava daquilo – típico de mim, que nasci resolvida a ser feliz.
Me formei, fiz um curso de especialização e trabalhei, até que, sem perceber e sem planejar, fui me afastando da minha área. Parei de vez.
Comecei a escrever, algo que me dá prazer, usando mais de intuição que de preparo. Continuo a escrever e ainda quero publicar muitos livros, mas, com cinco décadas de vida, finalmente aprendi a me questionar e a me conhecer.
Escrever pelo prazer de escrever é uma coisa, como um hobbie, diferente do prazer que eu quero sentir na minha profissão. Sem contar que, para viver da escrita, terei que vender muuuuitos livros, e o caminho para chegar lá – além de escrever bem, é claro! – é saber usar bem as “n” plataformas digitais (Kindle Direct, Kobo Writing, Wattpad, para ficar em três das mais de cinquenta) e investir demasiado tempo no dia-a-dia das redes sociais. Só então terei – se tiver! – milhares de seguidores e leitores, e chamarei atenção do público e das editoras.
Desanimada, cheguei novamente à pergunta, a mesma dos meus dezoito anos.
Me perguntei uma, duas, três… dez vezes, até que…
Descobri por acaso o que quero. Não foi um raio, uma luz divina, um milagre ou sonho, nada parecido. Bastou estar aberta às novidades, e às muitas possibilidades. Uma conversa entre amigos, alguma informação e pesquisa, o interesse aumentando, e a decisão de recomeçar.
Desengavetei meu diploma, necessário para a pós-graduação. Encarei o processo seletivo, a matrícula e a sala de aula. Passei o feriado estudando, lado a lado com minha filha mais nova, cada uma para sua faculdade. Fiz minha primeira prova do curso, depois de mais de duas décadas sem encarar um teste, com direito a frio na barriga, carteiras separadas, fiscal para não ter cola – o pacote completo. Fui bem. Fiquei feliz.
Sei que não sou a única. Muitas pessoas, algumas bastante interessantes, não sabem o que querem da vida aos trinta. Outras, também interessantes, não o sabem aos cinquenta.
E aqui vai um recado aos de todas as idades: não desanimem em suas buscas. Não se acomodem, não desistam. No meu caso, aos cinquenta e cinco, acho que descobri!
5 respostas
Sua fã de carteirinha!
Querida colega da FEA/ UFRJ,
seu texto é inspirador! Tenho pensado muito sobre “e agora, då para começar alguma coisa aos 55?” . Quero sair da zona de conforto e buscar algo que me faça exercitar o cérebro, com alegria e entusiasmo.
Obrigada por partilhar sua nova etapa de vida. Um beijo grande.
Goretti Herkenhoff
Goretti querida, que bom ler seu comentário. Mãos à obra, temos muita vida pela frente! Grande beijo 🙂
minha avo é uma escritora. Você muito legal.
Que bom, Maya. Quem escreve coloca um pouco de si nos textos. Um abraço para ela.