Todos viemos à terra com características pessoais, algumas positivas, que eu chamo de ativos, outras negativas – os passivos. Cada um de nós é uma combinação infinita destas características, o que faz de cada ser humano um ser único.
Mesmo que não haja um Deus a quem tenhamos que prestar contas do que fizemos com os talentos que nos foram dados, existe a responsabilidade de cada um.
Pessoas com facilidade para música podem, ou não, compor e tocar. Outras, sem qualquer dom mas que amam um instrumento, se matam em aulas e horas do dia praticando, e acabam colhendo os resultados.
Há gente nervosa que solta os cachorros nos outros a qualquer mínimo contratempo e gente igualmente nervosa que conta até três e se segura antes de explodir para não fazer deste um mundo ainda mais tenso.
Gente que se expressa bem, gente que nos faz rir, gente com dificuldade de se fazer entender.
Gente que dança bem e gente sem ritmo algum, sem contar com a timidez daqueles que tem o ativo da facilidade de dançar e o passivo da vergonha de desenvolver esse ativo.
Agora voltemos às responsabilidades.
Deixar de investir no talento de dançar, cantar, escrever ou ensinar é um problema de cada um. Chama-se talento desperdiçado. Perde o indivíduo que deixa de ter o reconhecimento dos outros e perde a humanidade que deixa de usufruir desse talento perdido. É uma perda, claro, mas residual, não sentida pela coletividade pois existem muitas outras pessoas para nos suprir com os resultados de seus talentos desenvolvidos.
O que tem me deixado perplexa a cada leitura de jornal é a quantidade de gente que tem talento, o identifica, desenvolve e o aplica para o mal.
Gente com poder de persuasão que usa esse poder para iludir os outros.
Gente extremamente inteligente que concentra esforços em bolar esquemas de burla, de ganhos ilícitos e armações visando o ganho pessoal em detrimento da coletividade. Esquemas tão confusos e bem engendrados que, mesmo depois de desvendados, são difíceis de entender.
Gente com poder de formar opiniões e que usa esse poder para o mal.
Gente que mexe com o destino de um povo, que muda o rumo de toda uma nação, que atrasa um país inteiro. Exemplos abundam.
Pessoalmente acredito que cada um de nós prestará contas de seus atos, nem que seja à sua própria consciência, pelo arrependimento do que fez ou do que deixou de fazer. Mas é pouco, muitos nem consciência tem.
Então, por uma questão de justiça, acredito que haverá uma prestação de contas maior. Nessa vida, através dos mecanismos criados pela sociedade ou, se isso falhar, além dela, a um Ser Superior.
É mais que uma crença, é uma questão de fé. Bobagem para uns, mas importante para mim, pois é essa fé que alimenta minha sanidade mental e me permite seguir vivendo em paz nesse mundo doido.
Justiça, humana ou divina, para premiar ou punir pelo que foi feito dos ativos e passivos recebidos.
Acredito nisso ou piro de vez!