Manhã de domingo pós festa, acordei em São Paulo sem pressa. Vesti minha roupa de ginástica, calcei os tênis e fui para o Ibirapuera queimar os excessos da noite anterior. Minha conhecida hora de parque tinha ficado para trás, e o público era diferente do que eu costumo encontrar. Menos corredores e mais passeadores.
Na entrada do parque cruzei com três orientais que riam e falavam no seu idioma de uma terra tão distante. Mais adiante um sujeito pedia um coco falando italiano e era atendido pelo vendedor da barraca, também italiano.
Um grupo de corredores, suados e com cara de “missão cumprida” passaram por mim.
Parei junto às barras para me alongar. Ao meu lado um casal jovem se exercitava ao som de uma dupla sertaneja. Um pouco mais adiante uma mãe com traços orientais ajeitava um bebê no carrinho enquanto sua filha mais velha, uma figurinha de mangá, rebolava, pegando carona no ritmo sertanejo.
Alongada, comecei a correr. Um pouco mais adiante dois passeadores de cachorros, rodeados de cães por todos os lados, conversavam. Impossível saber do que falavam, o mar de cachorros – contei treze – me obrigava a passar longe deles.
Cruzei com dois homens que falavam espanhol. Cinquenta metros depois, duas mulheres também conversavam em espanhol – provavelmente casais amigos separados por ritmos de caminhada diferentes.
Dois guardas municipais, um ruivo e um negro, passaram por mim de bicicleta.
Cruzei com os mesmos passeadores de cães, que agora eram quatro – outros dois haviam se juntado a eles – e mais de vinte cachorros, que eu nem tentei contar, uma cena de Central Park.
Passei por uma dupla que tocava violão e cantava num inglês sem sotaque, chapéu virado para cima no chão e CDs num mostruário improvisado. Impossível concluir se eram brasileiros ou não.
Deixei para trás duas professoras encarregadas de uma turma de crianças brancas, pardas, negras e orientais, sem que predominasse uma cor.
De tão distraída, tinha me esquecido da minha trilha sonora “de corrida”. Coloquei os fones no ouvido e segui correndo pelo parque que, pela beleza, tamanho e frequência, poderia estar em qualquer grande metrópole de qualquer país do mundo.
Lembrei da frase que ouvi: “São Paulo é terra de imigrantes”. Pensei na coragem e na história dos familiares daquelas pessoas com quem cruzei que, por vontade de melhorar de vida ou mesmo por necessidade, deixaram o conforto e segurança do que é conhecido para recomeçar a vida num lugar distante.
Brasileiros do norte e do sul, e estrangeiros de todo o mundo: uma mistura de gente no parque que tem minha admiração e aplausos!
3 respostas
Que agradável leitura. Me senti no parque com você. Assim que terminar essa pandemia pretendo ir a São Paulo para curtir a cidade e caminhar no parque Ibiraquera.
Obrigada, Dadá! Temos muito papo para botar em dia, e caminhando é ainda melhor! 🙂
Nossa, fiz essa corrida no parque agora com você!! Demais! 👏