Escrevo para jovens, aventuras vividas por uma turminha de quatro amigos que, a partir do terceiro livro, passam a ser cinco. Procuro fazer com que pareçam reais e em cada personagem convivem qualidades e defeitos: impaciência, timidez, coragem, bondade, e por aí vai. Em comum têm a amizade uns pelos outros e um forte companheirismo que, na hora do perigo, os ajuda a se livrarem dos problemas e confusões em que se metem.
Quando vou às escolas conversar com os alunos a primeira pergunta que me fazem é se meus personagens são inspirados em alguém que conheço e se já estive nos lugares que descrevo.
Adoraria ser uma J.K.Rollins – sim, a que escreveu Harry Potter! – que, além de vender centenas de milhões de cópias de livros e de ganhar rios de dinheiro, cria do nada um mundo onde é possivel atravessar paredes, voar em vassouras, subir em escadas que se movem… e o faz de forma tão rica em detalhes que quase dá para acreditar que ele exista.
Mas não. Escrevo sobre o que conheço, é assim que funciono. Gente, lugares, bichos. No máximo alguma pesquisa na internet. Quem é bem próximo a mim identifica um ou outro personagem. Para disfarçar procuro misturá-los bem mas, ainda assim, volta e meia um familiar ou amigo “brota” nas aventuras. Os cenários também são lugares conhecidos. Praias, fazendas históricas, uma cidade que visitei, uma casa onde me hospedei, uma antiga mina em que entrei. Minhas filhas ficam bravas pois acham que as histórias são por demais nossas. Ao menos eu as poupei de “serem” Aninha, Luisa ou Cacá – minhas personagens femininas. No máximo se parecem bem pouquinho.
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Acabei de colocar um ponto final no meu primeiro romance. Dessa vez tomei o maior cuidado para não descrever alguém que eu conheça. Uma coisa é falar de jovens que se perdem numa ilha ou entram numa gruta escondida, ou se embrenham num mato com uma onça à solta. Outra coisa é falar sobre adultos que vivem problemas no casamento ou na profissão, são desmesuradamente ambiciosos ou egoístas, possuem vícios, dificuldades de relacionamento, e por aí vai.
É mais difícil escrever para adultos. Dá mais trabalho. E mais preocupação, também. Vai que alguém cisma que o fulano de caráter duvidoso da história é a descrição perfeita do cunhado do vizinho da colega de trabalho…