“Boa tarde, meu nome é Eunice Maciel, sou escritora de livros infanto-juvenis e faço um trabalho voluntário em salas de aula. Converso com os alunos sobre as alegrias e vantagens de ler e me apresento como autora. Falo de como me tornei escritora, como surgem as idéias, a criação das personagens… como se publica um livro… O objetivo é incentivar o hábito da leitura. Caso a escola se interesse, posso deixar meu curriculo e a relação das escolas que eu já visitei ou, se preferirem, marcamos uma primeira conversa com a pessoa responsável.”
Esse é mais ou menos meu discurso quando ligo para uma escola buscando ser recebida. Na imensa maioria das vezes anotam meu nome e telefone dizendo que entrarão em contato comigo. Quando isso acontece sei que gastei saliva à toa. A taxa de retorno é zero. Algumas vezes me direcionam a uma professora ou bibliotecária e, então, há uma chance de eu atingir meu objetivo. Se conseguir chegar aos alunos, o resultado é imensamente prazeroso e certamente produtivo.
Crianças e jovens são “esponjas” que absorvem as informações. São curiosos por natureza e, ao contrário do que se imagina, gostam sim, de ler. Precisam de um empurrãozinho que pode vir na figura de pais incentivadores, de uma professora, de um livro que desperte a atenção de forma especial, ou, quem sabe, do encontro com a inventora da história. E pela quantidade de perguntas que se seguem à minha “palestra”, sinto que alcancei meu objetivo.
O trabalho é voluntário, o objetivo é nobre, o resultado é bom.
Por que, então, é tão dificil entrar nas salas de aula?
Entendo a responsabilidade dos educadores e as reticências em colocar uma desconhecida em contato com os alunos. Entendo que vivemos num mundo de muitas promessas e “oportunidades” que chegam diariamente a nós para depois se revelarem uma verdadeira invasão de privacidade. Eu mesma não tenho peciência para ouvir profissionais de telemarketing oferecendo um plano melhor que o outro que me fará economizar rios de dinheiro em telefonia, internet, TV a cabo ou seja lá o que for.
Mas não se trata de vender livros. Trata-se de incentivar a leitura de uma forma diferente daquela já conhecida, o “leiam bastante, ler é bom, leiam mais, leiam, leiam, leiam…”, que, aliás, nunca é demais repetir. Trata-se de apresentar ao jovem quem está por trás do livro e mostrar como ele é criado. Incentivá-lo a colocar suas próprias histórias no papel pois foi assim que me tornei autora. Fazê-lo acreditar que é um autor em potencial. Instigá-lo e incentivá-lo. A ler e a escrever.
Acredito no resultado, por isso insisto.
Pego o telefone, jogo meu discurso, tento ser recebida. E quando isso acontece tenho certeza de que valeu a pena. Se, de cada dez crianças que eu puder atingir uma passar a ler mais, já vai ter valido a pena. E de quebra, divulgo meu trabalho.
Um típico caso de ganha-ganha!