Triste, muito triste o que aconteceu com nossa cidade em consequência dos três últimos temporais, para ficar só neles. Todos fomos atingidos, em menor ou maior grau, com infortúnios que vão de perrengues no trânsito à perda de vidas humanas.
“Morreu por causa da chuva”. Que frase mais absurda, sem sentido, inaceitável!
Ontem fui ao cemitério prestar homenagem à mãe de um amigo, que descansou. Saí do carro e me vi filmada e fotografada como se estivesse num red carpet. Só entendi o que estava acontecendo quando me disseram que na capela ao lado estavam sendo velados os corpos da avó e da neta que foram soterradas dentro de um taxi por um barranco que desabou.
Fiquei indignada. Além da dor e da tristeza por tamanha desgraça, a família ainda tinha que enfrentar ter essa dor escancarada pelos meios de comunicação.
Uma coisa é a noticia, importante e necessária, outra coisa é o voyeurismo.
Nos dias que se seguem às tragédias milhares de pessoas ficam grudadas nas telas de tv assistindo às imagens da desgraça alheia. Imagens que se repetem, manhã, tarde, noite, madrugada adentro. Trazem dor e sofrimento para dentro das casas, padarias, salas de espera, academia. Onde há uma TV ligada tem desgraça. E gente olhando.
Escrevo como um desabafo e para externar minha perplexidade. Não tenho a resposta do que faz com que as pessoas se sintam atraídas pela dor dos outros, e nem penetração para fazer chegar aos meios de comunicação minha opinião.
Presto minha solidariedade da forma que me é possível – rezando por aqueles que foram atingidos para que tenham paz e forças para reconstruírem suas vidas e separando sacolas de roupas e um ou outro item para fazer chegar a quem perdeu tudo.
Mas não me peçam para acompanhar a dor alheia pela TV. Não ajuda, é inócuo, é invasivo.
E não aceito me prestar ao papel de figurante em porta de cemitério.
Me respeitem e, sobretudo, respeitem a dor das pessoas.
16 respostas
Essa morbidez também me impressiona e entristece. Nos obrigam a ser expectadores da desgraça alheia, invadindo as nossas telas e em torno. Bem colocado Nini!
Bjs prima. 🙂 🙂 🙂
É verdade as pessoas não têm consciência da dor dos outros a grande parte da mídia só interessa em vender notícias e qto maior a desgraça mais vendem é pior a maioria curiosa assiste
Duro de entender…
Muito bom!
Tks, Lou! 🙂
É uma questão de generosidade mental manter o equilíbrio diante deste bombardeio de notícias ruins. Adorei sua análise !
Obrigada, Cleo! 🙂
Estou absolutamente solidária aos sentimentos de Eunice, tão bem expressos nesse texto. Não mais assisto a jornais de TV por esse motivo. Isto não é bom, pois posso perder alguma notícia importante. Dar uma notícia triste é uma coisa, tripudiar sobre a dor alheia é outra.
Soube que existe um site que só dá noticias boas. Vou me informar. Existem tantas, e a gente nem fica sabendo…
Eunice, muito bom ler você.
Soube agora do blog, que passo a acompanhar. Linda a marca com as crianças lendo junto com as fantasias que vão nas páginas dos livros.
Obrigada, Vivi, pelos elogios e por me acompanhar. 🙂
É verdade, Eunice.
Também não consigo entender porque a miséria alheia, as desgraças, têm tanta atração, garantem audiência (e lucros) a mídias em geral, a programas infames como o do Ratinho, às repetições detalhadas ao longo de dias!
Nao sei se é um voyerismo como você sugere, mas penso que quem garante essa audiência são gente que se acha tão miserável tão desiludida, que adora ver quem – a seu juízo – sofra mais que eles; manifestação extrinceca e sem controle da maldade intrínseca que reside em cada um de nós.
O que apavora é a insensibilidade da mídia em geral, sua ganância por dinheiro que, criminosa, instiga aos mais baixos instintos, à desesperança, quando há tanto de importante, de inusitada beleza e estranheza a mostrar.
É verdade, Flavio. Desisti de entender. 🙁
Adorei, Eunice! Li uma vez que nossa espécie sobreviveu neste mundo cruel sem garras, sem dentes fortes, sem correr muito, porque vivemos em grupo e valorizamos mais as notícias ruins do que as boas. Nossos cérebros foram programados assim. Deste modo, por exemplo, o homem das cavernas, ao tomar conta de seu alimento à noite, precisava pensar em tudo o que deu errado das outras vezes, nos inimigos que iriam atacá-Lo enquanto dormia, etc… Assim, ele se protegia mais do que o vizinho que ia dormir radiante com a colheita, sonhando com o banquete do dia seguinte. Os que criaram os descendentes alertando sobre os perigos tb sobreviveram mais do que os desavisados e otimistas demais.
Esse mecanismo de sobrevivência existe ainda em nós, o que faz com que boas notícias não vendam e não tragam retorno financeiro aos telejornais.
Eu já desliguei a TV há anos. O mundo está complicado, mas a história da humanidade sempre foi difícil. Que possamos viver com alegria e celebrar os pequenos milagres que acontecem diariamente. 😘
É isso aí, Ana Luiza. Obrigada por esse comentário tão rico e que nos faz pensar ainda mais…
E para mostrar o “outro lado” da história – sempre existe um outro lado – escrevi o “Semelhanças”. Espero que você goste! 🙂