Assisti a uma palestra de um escritor famoso. O assunto era interessante e eu submergi no que ele falava até que uma força maior desviou minha atenção.
A sala tinha a disposição de anfiteatro e eu, sentada à esquerda do palco, via bem quem se sentava na outra ponta.
A força em questão era um olhar. Não para mim, o que seria mais fácil de perceber, como acontece quando alguém nos olha tão fixamente que sentimos, mesmo à distância. O olhar era para o palestrante. Um olhar de amor, acompanhado de um sorriso desses que a gente sorri sem se dar conta. Olhar de contemplação, de admiração, de encantamento.
Ele falava, ela sorria. Ele, concentrado no seu papel sobre o palco, não percebia. Ela, relaxada na primeira fila da plateia, não tinha ideia de que alguém a observava, e seguia sorrindo.
São olhares que falam – de amor, de ódio, de inveja ou preocupação, quase sempre dissimulados, porque ninguém gosta de se ver desnudado, a alma lida por outro, os sentimentos expostos. Acontecem no momento em que se abrem as guardas. Quando o sentimento é mais forte do que o mundo real.
Acabada a palestra, fui cumprimentar o escritor. Ao seu lado estava a mulher da plateia, também recebendo os cumprimentos dos amigos pelo sucesso do marido. Fomos apresentadas, ela era sua esposa. Sorria feliz, claro, mas a admiração incondicional estava escondida no rosto dedicado ao mundo real. O momento de entrega tinha passado.
Fiquei feliz por ele. Melhor dizendo, feliz pelo casal, porque um sentimento assim dificilmente é de mão única. Que as trocas de olhares entre eles sejam sempre intensas, de amor e admiração.
2 respostas
Que coisa mais linda! Consegui visualizar essa cena bem na minha frente. Impressionante como deixamos cair as máscaras quando abrimos o nosso coração de verdade..
🙂